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Negócios brasileiros na Argentina: qual foi o impacto após quase 150 dias do governo Milei?

Contextualização

          É de conhecimento geral que Javier Milei, atual presidente da Argentina, foi enfático e radical já em suas propostas de campanha; muitas dessas propostas já foram assumidas por ele como sendo “de difícil implementação”, alocadas como objetivos à longo prazo; outras vêm sendo implementadas, com reflexos nos resultados de empresas brasileiras localizadas na Argentina.
             É nessa linha de raciocínio que observa-se uma queda de 28% da exportação de produtos brasileiros à Argentina no primeiro trimestre deste ano, segundo o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços. Os dados também mostram uma retração de 7,4% nas importações dos produtos argentinos para o Brasil. As explicações para esse declínio são as dificuldades econômicas enfrentadas pelo país: a inflação argentina fechou 2023 em 192,3% e o Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê contração de 2,8% do PIB em 2024.

Impactos negativos

              Assim, a desvalorização da cotação do peso argentino atingiu de maneira significativa as empresas brasileiras localizadas também na Argentina. Vale lembrar que as normas contábeis permitem que as companhias que tenham operações em países de economias hiper inflacionárias façam a conversão para moeda brasileira atualizada pelo câmbio de fechamento no dia da finalização do balanço. Essa é uma forma de corrigir o efeito da inflação do país sobre o balanço e dar mais transparência na apresentação de resultados*. De modo geral, a forte desvalorização da cotação oficial do peso reduziu o ganho em reais reportado nos balanços. Porém, esse efeito não foi negativo em todos os casos.

              Partindo dos resultados negativos, esses vieram essencialmente de empresas relacionadas ao consumo e varejo. Dentre elas, podemos destacar a proprietária da marca Quilmes na Argentina, a Ambev, que sentiu a pressão da variação do câmbio oficial no país. A perda do poder de compra do peso e a hiperinflação derrubaram a demanda por bebidas, dentre outros produtos. Outros exemplos de empresas afetadas pela desvalorização da moeda local e a consequente perda de poder de compra da população são as empresas Minerva e Natura.

*A medida é conhecida como CPC-02/42 (nas normas internacionais, é chamada IAS - 29).

Impactos positivos

                Outrossim, os setores financeiro e de viagens apresentaram crescimento com a crise vizinha. Por meio do fortalecimento do real contra o peso, a Argentina tornou-se um destino viável para turismo — sendo inclusive um dos preferidos dos brasileiros em 2023. Nos primeiros sete meses, mais de 750 mil brasileiros foram à Argentina, estabelecendo um novo recorde para julho, com mais de 150 mil turistas.
              No caso da CVC, a operadora de turismo não só manda brasileiros para o país vizinho como também realiza pacotes de viagem para argentinos. Esses, por sua vez, aproveitaram os meses que antecederam a eleição de Milei para viajar ao exterior, provavelmente antecipando a desvalorização do peso que estava por vir. “Na Argentina, a representatividade por destinos internacionais segue elevada, representando 92% das reservas confirmadas”, destacou a CVC.

Impactos no Brasil

         Ademais, o Banco do Brasil também divulgou resultado positivo com a operação argentina. O lucro líquido ajustado do quatro trimestre foi de R$ 9,4 bilhões e de R$ 36,5 bilhões em 2023, um recorde para o ano. Uma das alavancas foi o resultado do Banco Patagônia, controlado pelo BB na Argentina, que teve números mais altos diante do efeito da variação cambial sobre os títulos atrelados ao dólar — em especial após a desvalorização do peso promovida por Milei.

             Dessa forma, é extremamente relevante analisar os próximos passos de Javier Milei e as relações entre Brasil e Argentina, anteposto que os dois são os maiores sócios do Mercosul, além da Argentina ser o terceiro maior parceiro comercial do Brasil. Esforços já estão sendo feitos para tentar fortalecer laços entre os dois governos: na próxima segunda-feira (15) representantes de ambos os países se encontram para discutir acordos; vale atenção às próximas decisões.

Por: Rafaela Fiuza Cunha em 10/04/24

​Fontes:

bit.ly/3JguZ6U
bit.ly/3xtf7LY
bit.ly/43RcorL
bit.ly/3UdbYbR

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